sábado, 24 de janeiro de 2009

Vinicius e Neruda - Dois sonetos

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor...não cante
O humano coração com mais verdade
Amo-te como amigo e como amante
numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo.te, enfim, com grande liberdade
dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim muito e amíude
É que um dia em teu corpo de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Morais



XLIV

Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida
a palavra é uma asa do silêncio
o fogo tem a sua metade de frio

Amo-te para começar a amar-te
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te
por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo

Pablo Neruda

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