Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice
1 comentário:
António esta foi uma excelente escolha para publicares. gosto imenso desta melodia de prosa poética, alguém que pensa em voz alta um amor que existe e se partilha.O amor como "sede que não passa" e que existe "como rosto de água fresca" que se entende "certa certeza de se gostar" até "ao fim do mundo que tu me deste" com que Nuno Júdice termina o poema! Harmonia total, clareza, sentimento, num poeta que esteve para vir ao anterior módulo com a Ana Luísa, foi pena, irei ouvi-lo para além dos livros que já li numa próxima
visita que faça ao Porto.
Obrigado pela publicação
Um abraço
Enviar um comentário