-----------------------------------------A medo vivo, a medo escrevo e falo
-----------------------------------------António Ferreira (1528-1569)
Devolve-me os dedos
que ficaram dormentes
nas fendas da lua
quando as ruas derretiam
e o vento vermelho voava
deixando as pessoas nuas
quando a vertigem trepava
e a virgem voraz rasgava
a garganta que a habitava
Devolve-me o linho branco
que cobria os meus pruridos
curvas e contra costas
quando o aço do teu espaço
se sumia em arrepio
ao cheiro do meu grito
quando os olhos se apertavam
e visões de videntes vinham
em inventadas ausências
Devolve-me o certo de mim
as linhas que me desenham
um ventre que se sustente
e medos que me sobrem
ou ancas que não se dobrem
leva-os no mar para longe
onde não possam dançar
falar ou viver
no instante em que tudo -
1 comentário:
Gostei de rever este poema que escreveste e leste na sessão. De novo recordei "quando as ruas derretiam/o vento vermelho voava " a seguir"...trepava...voava..habitava"..."as linhas que me desenham/um ventre que me sustente".
Forte e suspenso.
Parabéns!
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