segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Alteração do 4º trabalho de casa: O maltrato

O MALTRATO

Levanta, amor, levanta

São horas de jantar

Tira a faca daí!

Por que não me respondes?

Diz,

Onde estavas?

Tu sabes que eu adoro ver-te em casa

quando chego da rua.

Sabes que o teu corpo no chão

atinge os ângulos mais belos...

Sabes, meu bem, como eu gosto de ti...

Que estaremos neste laço para sempre

E que a minha força eterna e excessiva te protege.

A expressão que tens nos olhos mete medo

Anda, levanta-te.

São horas de jantar, não ouves?

Mexe-te.

Foi só um empurrão

Trouxe-te o pão e o vinho

Há trinta que casamos, lembras?

E continuas

cosmeticamente atraente

em formas , volumes e conversas.

E és tão desejável.

Acorda, amor, acorda.

São horas de jantar

Limpa o sangue do teu corpo.



Ángeles Sanz

2 comentários:

josé ferreira disse...

Este poema é forte mas reflecte de forma expansiva a realidade crua de um universo macho. de acordo com estas sensações que me invadem ao lê-lo ge novo prefiro o anterior título "o maltratador".
a poesia no curto espaço dos versos necessita de testar os limites para transmitir a mensagem.
gosto de setas certeiras que atingem os alvos, esta é uma delas!
parabéns!

Nuno CA disse...

olá, hoje de manhã vim aqui dar uma olhadela "às novidades"... e parei neste "trabalho de casa" que ainda não tinha lido com atenção. É assim um pouco a vida também; passamos pelas coisas, olhamos apenas num relance, não damos atenção aos pormenores (que são maiores) e, depois, um dia paramos para ver... para sentir... e ficamos surpreendidos. Foi assim que fiquei quando finalmente parei para ver e sentir este "maltrato"... Isto tudo para dizer que gostei... apesar da mensagem terrivel. Está muito bem escrito. É tão bom quando alguém consegue dizer tanto em tão poucas palavras...
Nuno CA