O MALTRATO
Levanta, amor, levanta
São horas de jantar
Tira a faca daí!
Por que não me respondes?
Diz,
Onde estavas?
Tu sabes que eu adoro ver-te em casa
quando chego da rua.
Sabes que o teu corpo no chão
atinge os ângulos mais belos...
Sabes, meu bem, como eu gosto de ti...
Que estaremos neste laço para sempre
E que a minha força eterna e excessiva te protege.
A expressão que tens nos olhos mete medo
Anda, levanta-te.
São horas de jantar, não ouves?
Mexe-te.
Foi só um empurrão
Trouxe-te o pão e o vinho
Há trinta que casamos, lembras?
E continuas
cosmeticamente atraente
em formas , volumes e conversas.
E és tão desejável.
Acorda, amor, acorda.
São horas de jantar
Limpa o sangue do teu corpo.
Ángeles Sanz
2 comentários:
Este poema é forte mas reflecte de forma expansiva a realidade crua de um universo macho. de acordo com estas sensações que me invadem ao lê-lo ge novo prefiro o anterior título "o maltratador".
a poesia no curto espaço dos versos necessita de testar os limites para transmitir a mensagem.
gosto de setas certeiras que atingem os alvos, esta é uma delas!
parabéns!
olá, hoje de manhã vim aqui dar uma olhadela "às novidades"... e parei neste "trabalho de casa" que ainda não tinha lido com atenção. É assim um pouco a vida também; passamos pelas coisas, olhamos apenas num relance, não damos atenção aos pormenores (que são maiores) e, depois, um dia paramos para ver... para sentir... e ficamos surpreendidos. Foi assim que fiquei quando finalmente parei para ver e sentir este "maltrato"... Isto tudo para dizer que gostei... apesar da mensagem terrivel. Está muito bem escrito. É tão bom quando alguém consegue dizer tanto em tão poucas palavras...
Nuno CA
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