Ao ler o texto do Nuno sobre o 'tempo', e depois a reflexão com que concordo - os nossos poemas, tão distintos e únicos, são como as cerejas ("o nosso mar inspira outros mares"), e que bom ver que é assim - desencantei uma pequena reflexão sobre o 'tempo' há algum tempo pensada. A ideia é distinta, mas é sobre o 'tempo'. Digamos... É também "um outro olhar"... Aqui o partilho convosco.
E ali estava eu, crescida. O relógio a dar horas logo cedo de manhã. A corrida para o trabalho, sozinha no carro, tentando que a melodia do rádio me distraísse do fumo e da confusão lá fora. Depois, o dia, passando. Com as folhas de papel enchendo-se de orçamentos exigentes. E as carantonhas cinzentas que se passeiam para lá e para cá, trocando impressões, cumprindo metas, sem nunca parar para pensar onde isso as vai levar. Mas há que continuar! O mundo avança, o lápis e a folha de papel que se saboreavam como uma brisa suave dão lugar ao computador e a uma valente dor de cabeça. Mas não se pode parar. No final do dia, o Multibanco. Uma vez mais os números e as responsabilidades. A conta da água, da luz, da internet, da ordem… E depressa! Que há que continuar a correr para fazer o jantar a horas. Para as crianças. Onde andariam? Não as vi no quarto. Nem as encontrei na sala. Abri a janela e por fim, ao fundo, ouvi os gritos alegres… No fim da avenida, de terra batida, jogava-se ao pião, enquanto tudo o mais era ilusão.
Elza
(Obrigada São e 'Escrever Escrever' pois foram vocês as primeiras cerejas que provei neste caminho...)
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