Olho-me ao espelho na minha nudez
A barba firme que me enfeita o rosto
Os ombros largos da insensatez
Com que o desejo me consome o gosto
Sou forte, pai, líder, chefe ou herói
Cumpro o destino da força maior
do musculado corpo sem temor
Mostro só força mesmo quando dói
Tudo o que esperam talvez possa dar
O corpo erecto na vida a lutar
Se o meu destino é o penetrar
na dor que vejo sem poder olhar
nos olhos guardo lágrimas em par
mas não me deixam nem sequer chorar!
6 comentários:
menina gosto muito das duas primeiras estrofes mas acho que as duas últimas perdem muito por acabar tudo em "ar"
cheers ;)
Adorei os versos:
"nos olhos guardo lágrimas em par
mas não me deixam nem sequer chorar!"
(Poesia doce e muito ilustrativa das emoções escondidas dos "machos" de outrora)
Liliana, no teu poema distingo dois espaços distintos; duas quadras onde o personagem homem imana autêntico e dois tercetos onde me parece assomar mais o teu lado feminino.
Como há dias dizia as diferenças não são assim tantas e o homem chora as mesmas lágrimas de sal, cloreto de sódio, nas circunstâncias de dor, alegria e amor soltando as emoções. O "homem" que escreve este poema não tem vergonha de chorar, não aparta as lágrimas quando há necessidade de soltar. Um homem e uma mulher somos o sexo forte! Mas isto é apenas filosofia... gostei da poesia!
Para completar o meu raciocínio que parece que não está muito claro
o que quero dizer é que o homem "macho latino" das primeiras duas quadras não me parece combinar com o homem mais sensível e dividido dos últimos dois tercetos.
A elegância das palavras, na poesia, estão nos dois personagens.
O poema da Liliana está a dar que falar. Afinal os sexos masculino e feminino são diferentes e isto de tentarmos ser quem não somos não é tarefa fácil! Em relação ao que o José disse, eu também distingo esses dois momentos. Mas pareceu-me natural no desenrolar do poema. Pude ver, não sei se era essa a intenção da poetisa, o homem, pretenso macho, olhando-se no espelho, "a barba firme", o "líder"... Mas que, ao mesmo tempo, e uma vez que está só consigo mesmo e junto ao espelho, se questiona ("Tudo o que esperam talvez possa dar") e num desabafo afinal conclui que, por baixo dessa imagem dura que tem, provavelmente imposta pela sociedade, é sensivel. Mas, por outro lado, essa mesma sociedade não deixa que ele se revele e por isso reclama "mas não me deixam nem sequer chorar!"... Será isso?
texto muito Bonito!
bonita é a palavra "O meu destino é penetrar" Excelente exercício de abstracção!
Um homem em frente ao espelho " Forte, pai, líder, chefe, heróis" mostrando todas as suas fragilidades.
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