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Vem, como dantes!
Livra-me do peso
Das palavras que exigem
Seu objecto.
Da música, ordenando
Um som concreto.
Dos sentimentos coesos
Com a morada.
Desmancha
Com teus dedos
De um cortante cristal
De ágeis segredos
A ligação do corpo
Com os seus medos
De morrer sem memória,
Solitário.
Com tua treva e luz
Tumultuosos
Desfaz e faz
Os sonhos e as cousas
Do Tempo
Eterno em seu itinerário.
Mesmo na solidão
De ruas longas
Quando os vivos e os mortos
São só sombras
E eu sou apenas
Rectas de um degrau…
Tu podes
Como um deus
Combalido e amargurado
Ao direito negado
Abrir no Espaço
Um som de sementeiras
Erguer no Espaço
Os aquedutos de oiro,
Esconder amigos falsos
Como um grande tesoiro.
E propor, como aos sinos,
Uma infinda ousadia
De invisíveis destinos,
Esses, que eu espero e vivo
E respiro, mortal.
Natércia Freire in Obra poética, vol. II lido aqui